quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Uma conversa - Xikinhu e Rafael

Uma conversa muitas vezes é mais importante para quem a ouve, do que para quem participa dela.

Isto é uma destas coisas sem consistência que acontecem sem que ninguém perceba.
Quando alguém pergunta Maria está grávida?  e, você responde acho que sim, você está dando a resposta mais absurda que existe.
Gravidez, ou se está ou não. Ou existe ou não. Da mesma forma quando você se refere a alguém como seu melhor amigo. Não existe melhor amigo como não existe pior amigo, existem amigos e inimigos.


Assim a sua vida vai se expandindo sobre coisas mau interpretadas e, isto num determinado momento vai lhe dar a sensação que o mundo está ruindo aos seus pés.
Evidentemente você construiu seus conhecimentos sobre conceitos que não refletem a veracidade das coisas que você vive. Se você entende uma coisa de uma forma e logo a retransmite de outra, tudo o que passa por você sofre uma mudança de direção e por conseguinte provocará efeitos diversos dos que os pretendidos.
Isto não se trata de sorte ou azar, mas de entender ou não o que acontece em sua vida.
E, quando você não entende o que se passa com sua própria vida, você se desvia de seu caminho original e desemboca numa estrada sem fim, que é a estrada que a levará da Depressão à Sindrome do Pânico. Sem que você perceba estará isolada dentro de você mesma com todas as suas respostas que não produzem efeito algum em suas coisas.
Afinal você é prisioneira de si mesma.
E, neste momento ou você se apega à bebida ou à droga ou vicia-se em algum antidepressivo que faz parte da prateleira de algum psiquiatra.
Bom não creio que meu texto deva mudar o entendimento de nada, mas eu ao menos chamo você a refletir com palavras que você facilmente poderá entender qual a sua real situação nesta vida.
Você perdeu um filho(a), mas continuará sendo Mãe para o resto da vida, e sentirá tanta falta de seu filho quanto das questões dele. Talvez a maior dificuldade que você deva encontrar seja a ausência das questões dele.
O que envolve a vida do filho muitas vezes é mais importante do que a vida do filho.
Ontem participei como ouvinte de uma conversa entre duas Mães que tinham filhos na mesma idade. Enquanto uma estava muito contente por seu filho ter se formado em medicina, a outra estava terrivelmente triste e abalada porque seu filho não estava conseguindo emprego.
Naquele momento enquanto conversavam passa uma outra mãe empurrando uma cadeira de rodas com um filho acometido por algum tipo de doença degenerativa, eis que esboçava poucas reações e aparentava, 25 anos de idade. Esta Mãe para, cumprimenta as outras duas, pega uma frauda e limpa a boca do filho que babava e ajeita os cabelos dele, e recoloca numa posição mais confortável e diz - nossa estou tão feliz porque o sol está tão lindo... e segue sua caminhada empurrando a cadeira.
Não houveram meias palavras, mas as duas mães se olham e por alguns segundos não ouvi as suas vozes, apenas concluo que cada mãe tem uma forma de ver e sentir o filho. E, que a preocupação é muito mais com as questões do filho do que propriamente com a vida dele em si.
Mães, são mulheres, e mulheres são dominadoras e, se não entenderem isto passarão a vida inteira querendo dominar sempre uma situação até quando não for possível fazer mais nada.
Não sei se isto interessará a alguém, mas continuo caminhando em direção à uma pequena sombra, refrescar o calor e tomar um gole de água fresca.
Ontem foi um dia muito cansativo, cheio de atendimentos, não parei nem pra tomar água. Mas foi um dia proveitoso pois pude ouvir uma boa conversa de dois filhos de duas mães que vieram a falecer no mesmo acidente. Alias eram amigos talvez muito amigos porque tinham em comum amizade incondicional de uma das Mães.
É uma conversa polêmica, mas interessante e vou tentar transcrever alguns pedaços dela.


“Como ela está Xi... ainda sinto eu deixei pra trás um pedaço de minha estória de vida sem confessar.


- Ela está bem Ra... diz o mais careca, enquanto passa as mãos como se quisesse alinhar os cabelos.


- Mas tu não tens cabelos por que insiste em arrumar o que não tem?


- Força do hábito, ou até vontade de sentir como seriam os meus cabelos se eu não os raspasse mais... Ah!... não sei explicar pra ti como funciona isto. Veja não tenho mais a vida, mas ainda tenho o hábito de querer entender as coisas.


- Mas aqui não tem sentido um entendimento simples, como o que tínhamos. Diz o cabeludo.


- Eu sei, mas mesmo assim, me preocupo, porque muitas vezes sinto que sou ainda necessário junto de minha mãe. Todos ainda me guardam na lembrança, e sinto que todos estão se distanciando entre eles, apenas Laura não quer entender as coisas assim.


- Mas ela ainda conserva os traços de anjos então pra ela a vida tem outro sentido. Você tem que entender isto.


- Eu entendo mas é difícil. Sabe Rafa. Eu não me lembro de um momento em particular em que eu tenha perdido as esperanças de viver.


- Mas eu sim, me lembro, de todos os momentos e de todas as angústias que passei, acho que foi um sacrifício desnecessário, às vezes, porque eu tive que sofrer tanto com minhas questões para morrer daquele jeito?


- Eu não sei Rafa. Estas coisas eu não entendi ainda. Apenas sei que a memória cada vez mais me distancia do que aconteceu. Parece até que sempre vivi aqui. E, eles do outro lado da cortina.


- Eu estou bem, mas fico pensando será que não foi preciso a gente morrer para que eles tomassem alguma providências ou mudassem as coisas?


- EHEHEH talvez eles estejam pensando a mesma coisa a respeito. Diz Xikinhu...


- Vamos meu chapa, toca a música do lajeadense aí, vai...!!!“


Até onde eu posso entender e meus conhecimentos parcos podem me levar, acho que eles estão bem porque continuam questionando todas as coisas e não se questionam... talvez esta seja uma das lições a considerar.
Minha caminhada continua sem que eu precise parar e explicar o que vim fazer nesta vida, pois vim pra cumprir minha missão e acho que estou cumprindo.


Léo S.Bella
02/12/2010

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